domingo, 12 de julho de 2009

61º/ 7º Noitão - "Intimidades"


Enquanto o sol não vinha, uma chuva de verão (ou de inverno) lavava a Consolação e toda a cidade de São Paulo na madrugada do dia 10 para o dia 11 de julho do presente ano, o que atrapalhou um pouco a vida dos 1000 cinéfilos que religiosamente saem de suas casas para acompanhar este evento que ocorre toda segunda sexta-feira de cada mês no HSBC Bellas Artes.

As linguas menos escrupulosas dirão que não foi bem a cinefilia quem motivou estes jovens de sairem de suas casas e de suas cobertas num dia tão pouco convidativo. Isso porque o folder do HSBC (aliás, deve ser dito que é o melhor folder de cinema que eu conheço) prometia que o filme espanhol Diário Proibido continha "alta dose de erotismo". Bom, eu como sou bastante escrupuloso e acredito piamente nos valores morais da juventude paulistana, ignoro gente desta laia e prefiro pensar que aspectos meramente artísticos foram os responsáveis pela pequena multidão de madrugadores que podia ser vista correndo da chuva na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação naquela noite (que prometia ser um Noitão).

Vencida a chuva, o primeiro filme escolhido por este que vos escreve foi justamente o famigerado Diário proibido. É preciso que se diga que, por mais sugestivo que este nome possa parecer, é apenas um tênue eufemismo do nome original Diário de uma ninfómana, o que poderia ser traduzido livremente por Diário de uma nifomaníaca ou Diário de uma viciada em sexo, o que não seria nada sonoro e soaria algo muito assustador para àquelas pessoas um pouco mais pudicas.

A história poderia ser muio bem a daqueles filmes que costumam passar nas madrugadas da Bandeirantes: Val, apesar de ter tido uma experiência sexual frustrada em sua primeira tentativa, aos 15 anos, passa a ser uma viciada em sexo, o que a faz dar em cima do primeiro que aparece pela frente. Val escreve isso num diário e tem sua "sábia" avó como conselheira ("aproveita a vida", "se eu pudesse voltar trás, transaria até não poder mais", ou algo do tipo).

Ora, não sejamos simplistas! Não é pelo fato ser prato cheio para filmes pornôs que este tema não poderia ser tratado seriamente e resultar num bom filme. Aliás, isso de fato aconteceu em alguns momentos, quando somos confrontados com alguns dramas de Val: os preconceitos que sofre, a frustação no casamento (sim, ela se casa), a violência que sofre, etc. Entretanto, quando as sequência de cenas de sexo parecem ter sido mero pano de fundo para que a história pudesse ser melhor explicada e os dramas de Val parece ser o foco do filme, a personagem tem uma "recaida" e as cenas voltam de forma gratuita, beirando o cômico (beirando não, foi bastante engraçado). Acho que as palmas que timidamente puderam ser ouvidas ao final da sessão ou vieram de pessoas um tanto ninfônicas ou de pessoas que souberam valorizar alguns dos bons momentos que o filme teve.

Bom, mas como é sabido de todo frequentador do Noitão, ele não pode passar sem um filminho francês. Como é sabido de todo aquele que assiste a filmes franceses, eles geralmente são câmeras voltadas para o cotidiano. Enquanto o sol não vem é um bom exemplo disso, ainda que não tenha se valido dos diálogos intermináveis que também costumam acompanhar estes filmes. Aghate Villanova, politica feminista, visita sua irmã para resolver problemas acerca da morte da mãe. Nos fundos, vive a empregada (migrante) da familia (que já não está recebendo mais seu salário). Seu filho, ao mesmo tempo que luta pelos direitos de sua mãe, está fazendo um documentário sobre a vida de mulheres influentes e tenta gravar uma entrevista com Aghate. o filme gira em torno desta bendita entrevista que nunca termina e sempre é adiada, seja pela vaca que muge, pela fita que é esquecida, pela distração dos entrevistadores, etc. Neste interim, questões políticas e a vida dos personagens são postas em pauta, até que o sol resolve aparecer e Aghate retorna a sua vida.

O filme estava bem legal, mas pelo visto o casal atrás de mim não gostou e não fazia questão de pensar que outros pudessem discordar deles, já que não paravam de falar um minuto!

A chuva continuava, o sono ameaçava atrapalhar a maratona, e o cafezinho com pão com mortadela da barraquinha na frente, resolveu não sair de casa! Tivemos que pagar salgado pelo amargo café do HSBC!

O Noitão, como sempre ocorre, preparou uma surpresa (que não costuma ser tão surpresa assim, já que eles sempre divulgam o filme antes do Noitão começar). O filme da vez foi da distante Nova Zelândia e se chamava Chuva de Verão (Rain), de 2001.

Aprovitando as férias de verão, um casal em crise e os filhos vão para sua casa no lago. A menininha está entrando na adolescência e o garotinho deve ter uns 4 ou 5 anos, ambos vivendo em seu mundo particular, brincando no lago e descobrindo pouco a pouco os mistérios da vida. Mistérios que se apresentam cada vez mais próximos, sobretudo quando a garotinha descobre que sua mãe tem um amante. A aproximação da menina com sua mãe é percebida logo nos primeiras cenas, quando a menina faz questão de se vestir e a fazer tudo igual ao seu exemplo feminino. O mesmo não se pode dizer do pai. Uma figura apática, que beira ao patético, quando anda com cara de bobo na praia, segurando bolas de sorvete para os filhos, enquanto sua mulher o trai no chalé.

A menina desperta o amor do vizinho, com o qual passa o tempo todo manipulando e se divertindo as suas custas, entretanto, é o amante de sua mãe quem a conquistou e passa a ser alvo de todas as suas atenções.

O final pode não ter sido o mais surpreendente para alguns, mas foi um tanto emocionante. O cenário e os diálogos infantis, sedentos por descobrir tudo (inclusive se descobrir), tornam o filme muito bonito. Vale muito a pena!

Com o café devidamente tomado (com os bolinhos da Sol) e antes mesmo que o sol raiasse, o Noitão se encerrou...

...mas a chuva continuou lavando a cidde que não dorme...







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